21 agosto, 2008

Histórias de Coletivo

Um rapaz hoje com uma lata daquelas de argamassa, um bastão de madeira revestido com fita branca, fazendo uma cabeça arredondada, e uma colher de metal.

O transporte público estava já na fase em que dar licensa é uma forma de arte. Entrei com uma sacola na mão, o celular na outra e um bocado de moedas para pagar ao cobrador, ou seja, uma completa tragédia esperando para acontecer.

Consegui um pedaço de corrimão pra chamar de meu e comecei a prestar atenção na cantoria desse supracitado rapaz; deu o tom com sua lata e foi:

"Vou amarrar minha sogra
num tronco de pau e jogar no açude
pra ela deixar de ser rude,
pra ela deixar de ser rude"


Foi impossível não rir com ele, e ele com aquela cara de quem se diverte, de quem aprecia o que faz, que me deu aquela inevitável inveja, visto que dona melancolia se instalou por aqui e já pagou adiantada uma longa estadia.

Não sei se as músicas, todas nesse mesmo teor, eram de autoria desse rapaz ou se isso é tocado nas filiais do Bar do Bode™ sertão adentro; sem dúvida, sua interpretação foi decisiva. Descalço, pedindo moedas no lotação e com aquela cara de felicidade. Se nao era a maria juana, nunca alcancei um estado de espírito similar.

Quando chegamos ao terminal e quase todos descemos, cheguei perto dele e disse: "Não pude contribuir porque não tinha dinheiro, mas você é muito bom". Ele respondeu: "Tem nada não; eu vi a senhora dando risada lá atrás, foi massa".

A senhora aqui se sentiu bem pequenininha perto dele.

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Roberta Gonçalves, 2007 - We copyleft it!