12 agosto, 2008

Clichê n. 1

Meu instinto laparoscópico e inadequado me diz que jamais devo escrever quando estou bêbada de sentimentos ou desvalida por uma onda de tédio. É uma fumaça que nem turva nem sobe aos céus, inalá-la é imperioso e exalá-la é um alívio que cobra seu superestimado preço nesse mercado negro dos bytes que voam.

Não tenho escrito nada digno, nada que me dê dinheiro nem que me consiga sexo, drogas ou róquenrôl. E me gera um imenso vazio motivacional não ter o que dizer.

(À parte 1: eu tenho, sim, muito o que dizer. Quando escrevia minha filosofiazinha de boteco, não era pra ninguém mais que pra mim, me fazia sentir bem, me deprimia e depois me fazia cócegas, conquistava espaços e caretas nihilistas. O ôco das pessoas me devolvia um eco, um ego, uma tristeza com aquele risinho de canto de lábio, bem meu e bem canalha. Delightful.)

(À parte 2: não me leia como quem reencarna de Argos, o meu pavão interior morreu no dia em que eu descobri meu dom para o repetismo cínico e os neologismos suspeitosos. A esfinge está em ruínas, não existe uma Razão redentora, esqueça as três dimensões que você vê e atente para a quarta, a que você nunca alcançará; motivação é objetivação de busca, é pergunta ou resposta que nunca se completa. Eu desejo, portanto existo. Razão não tem nada a ver com isso.)

Há 11 dias atrás decidi partir - quando ninguém vai sentir sua falta, bata o pé, construa sua cabana e desista de metáforas poderosas, porque isso espanta gentes; quando chorarem sua partida, doe seus livros, venda seus trapos e procure uma estrada onde tocar um blues. Até quando você também chorar, então é hora de parar e olhar o sol se pôr.

Muito embora tudo seja um grande clichê esperando para ser confundido com uma grande idéia, ainda me sobra espaço nesse coraçãozinho pimpão para um final apoteótico, hors concours, verde e amarelamente lugar-comum:





Talvez, ó instinto meu, a ridiculez deva de fato ser combatida com mãos de ferro. Entrementes, meu vinho das quartas-feiras não teria o mesmo sabor sem esse pequeno desafeto com a autenticidade, pela saúde da dor compartida.

2 comentarios:

Astier Basilio dijo...

muito bom, muito criativo

Anónimo dijo...

Ahhh... Mizinha, adorei seu blog!!! Especialmente esse video... put* q pariu, esse homem eh fod* mesmo!!!! MEO DEOS!!!!!

bjos

Aldson

 

Roberta Gonçalves, 2007 - We copyleft it!