03 septiembre, 2008

Maria Madalena

Maria Madalena não era uma menina bonita de se ver. Ela já havia entendido que, entre o pouco e o demasiado, lhe tocava sempre o não saber qual deles.

Quando estava só com seus livros e seu merlot, ela era só Maria, era linda, vermelha, delirante, e encenava sem querer uma película sem cortes e sem defeitos, intensa e de final trágico, como deve ser.

Sob o sol, ela era Má, Madalena, a outra, a desconcertante, grisácea. Vivia uma vida bemol e sem trilha sonora, loop fantasma girando despercebido e sem razão pelos latifúndios vazios dos Outros.

O que ela sempre quis foi que a vissem sem que fosse vista; queria uma incompreensão cúmplice e, por uma vez na vida, não ter que escolher entre amor e dor.

Entretanto, de sua só a ausência, e nada nunca a delatou.

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Roberta Gonçalves, 2007 - We copyleft it!