11 junio, 2007

a matter of matters

Desde 1492 até 1990, estima-se que houve no mundo cerca de 36 genocídios, os quais tomaram a vida de alguns milhões de pessoas. Mais da metade desses atentados à humanidade tiveram lugar no século XX (Ruanda, Cambodja...), e sozinhas as duas Grandes Guerras mataram em torno de 55 milhões de pessoas.

Após 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, urgia a criação de leis que tutelassem tais crimes mais efetivamente do que já se havia escrito, dito e pensado ao longo da história política pós-revolução francesa. Dessa forma, a Declaração de Direitos Humanos da ONU, de 1948, invocou para si a tarefa de universalizar conceitos como vida, liberdade e dignidade humana, enunciando assim a nova era de proteção aos povos do mundo.

Entretanto, se Richard Rorty estava certo ao intitular o ser humano como um ser contingente, que muito longe de ser absoluto e transcendente, é fruto da pluralidade de experiências, crenças e valores adquiridos por determinada tradição cultural que evolui e/ou degenera ao longo de causalidades incontroláveis, uma série de direitos baseados em dado período histórico onde o comportamento humano se dava de tal maneira não pode funcionar como um ponto fixo de racionalidade apta a lograr em todas as esferas sociais, a qualquer tempo, universalmente.

Aliás, universalidade é algo tão ingênuo quanto perigoso. O que nos define a todos como "iguais" é exatamente a precariedade da existência humana e, portanto, a impossibilidade do "igual" em nós. Em certa medida, é essa a lógica que leva Nietzsche a proclamar a democracia como a maior degradação do individualismo do homem, porque trata de sustentar que somos todos iguais e destituir os cidadãos do direito à sua "personalidade" única e própria.

Apartando um pouco os radicalismos (o desapreço de Nietzsche pelas massas tem muita influência sobre suas deliberaçoes acerca do tema), muito embora os cientistas jurídicos, assim como os políticos, tendam a desconsiderar as discussões analítico-filosóficas sobre Direitos Humanos, é muito fácil encontrar pontos onde eles, até hoje, falham ou simplesmente não conseguem chegar, por aferrar-se ao corolário da universalidade e não no que se pode chamar diferencialidade, à medida em que, se prestamos bem atenção, toda luta humana se rege pelo desejo de querer ser único e distinto, ou de manter a sua identidade cultural quando os demais tentam converter-lhes em seus iguais.

Só é preciso ler nos jornais, entender o que é a televisão, ou simplesmente atentar ao que fazemos no nosso próprio dia-a-dia. Eu quero ser igual a todos ou desejo mesmo é mostrar ao mundo que sou diferente?

2 comentarios:

Unknown dijo...

nosso universo é paralelo demais...

=)

lembrei de tu: http://tales-of-iraq-war.blogspot.com/

Alex Luna, Tarrask dijo...

ninguém = ninguém.

o que temos em comum com outras pessoas? sinceramente, eu nunca conheci ninguém igual a mim.

e é isso que me faz igual a todo mundo.

noves fora, nada.

 

Roberta Gonçalves, 2007 - We copyleft it!